7.21.2006

Bagaço de uvas

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Refém

Um gesto maldito
No valor de certos prazeres
Um segredo que pode te curar
--A tua causa é perdida, não mais existe resgate.






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Caos

Os passos não conseguem ver as pedras.






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Constatação

Os dias me alimentam
É tempo
de derramar pela boca, não sei,
talvez as fibras feitas de manhãs.
É, é tarde.
Já é tarde.
Percebo bem, é o inferno.






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Determinação

O tempo é pouco
Felicidade com “ph” não existe
--Talvez se eu soltasse um sorriso este pássaro voasse
Mas sorrir com “z” ou sorrir com “s”?
Por fim, só me resta enfiar o dedo na tomada.
Tomar um “xoque” com “x” e que este raio me parta ao meio.






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Conquistas e conseqüências

Nos meus desvios de fé comecei a ser punhal enquanto a lama me engolia, várias vezes me pus de pé no quintal, esse oratório desajeitado de conforto que fiz apenas por capricho.

Tudo que foi troféu, hoje me engasga a garganta.

Já fui setenta, hoje sou borrão.

Do sangue que derramei já não me resta mais nada.

Nas varias vezes que morri apenas por capricho, descobri que não adianta guarda na memória a planta da casa, o mapa do tesouro, a bússola do tempo, que ninguém pode está em dois lugares ao mesmo tempo,que ninguém pode vencer o tempo, que ninguém pode construir a maquina do tempo (o cientista louco foi internado no sanatório), que ninguém pode fugir de ser múmia, de ter múmias dentro de si - só que eu não vou desenterrar as minhas, que os arqueólogos desenterrem as suas, as minhas, que fiquem lá, eternizadas embaixo da terra que sou).

É, eu aprendi, e é assim, de vez enquanto nosso álbum de fotografias encontra-se cheio de fotos inúteis e vemos no céu estrelas que não fotografamos.

Hoje eu não espero ver roseiras na minha janela, nunca plantei roseiras. Nem espero que nenhuma porta mágica abra-se na minha frente. Todo dia eu tenho que limpar a jaula do leão, eu tenho que acender a luz para trocar de roupa, nem fico inventando muros com vidros para deixar de viver. E grito para que me escutem: nenhuma utilidade tem em cuspir no chão dizendo que assim serei feliz, que o amor que dediquei, a gratidão que tive, a fidelidade, a lealdade, foram as provas de minha dignidade para com os outros, enquanto em outros momentos serviram apenas como justificativa para as minhas próprias decepções, a minha própria fraqueza. Grito mais: que hoje sou contra aqueles que dizem que tudo tem seu preço, já que muitas coisas faço sem que tenham valor algum.






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A espera

...as mesmas coisas que nunca são feitas...





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A Ironia

O requentado já não tem o mesmo gosto.





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Existencialismo

Falta-me o alívio
De um dia sem quereres.
Tua cor em mim navalha.






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Efêmero

Num céu de pavor escarlate
Desnuda pomba mergulha
Sonhos nas pedras






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The end

Deixar as soluções
entre paredes de madeira
perder o espírito.

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